A Doença de Chagas é a quarta maior causa de mortes no Brasil dentre as doenças infecto-parasitárias e, ao contrário do que se pensa, a maioria dos pacientes está concentrada nas grandes cidades, principalmente na região sudeste. O infectologista Rodrigo Farnetano, da equipe do Hospital Mater Dei, explica como a doença é transmitida, seus sintomas e tratamentos.
Segundo o médico, a forma mais comum de transmissão da Doença de Chagas é através da picada de um inseto, conhecido popularmente como barbeiro, infectado pelo parasita microscópico chamado Tripanossoma cruzi. É comum que o barbeiro defeque após sugar o sangue, próximo à ferida provocada pela picada, e a transmissão ocorre quando a pessoa coça o local, fazendo com que as fezes, que contém o parasita, entrem em contato com o sangue.
Em casos extremamente raros, a transmissão também pode ocorrer via transfusões de sangue e durante a gestação, da mãe para o filho. Recentemente, foi descoberta possibilidade da transmissão via oral, como nos surtos pela ingestão de caldo de cana infectado em 2005, em Santa Catarina, e de açaí, em 2007 no Amazonas e no Pará.
Rodrigo explica que a doença pode ser diagnosticada através de exames de sangue específicos para Chagas (pesquisas diretas ou sorologias) ou através de um teste feito na pele chamado Machado Guerreiro, que está em desuso.
Infecção e sintomas
Uma vez no sangue do homem, o parasita inicia a infecção, que apresenta duas fases: aguda e crônica. Na aguda, que tem duração de dias a poucas semanas, pode haver (ou não) sintomas inespecíficos como febre, mal-estar, perda de apetite, dores musculares, presença de ínguas dolorosas, aumento do fígado e do baço, e inchaço do olho. “Essa fase resolve-se espontaneamente, com ou sem tratamento”, explica Rodrigo. “Porém, se a fase aguda não for tratada, pode haver evolução para fase crônica, que se desenvolve lentamente durante anos”.
Na fase crônica, a doença pode evoluir para o que se chama de formas indeterminadas, ou seja, que não apresentam acometimento de órgãos, mas pode haver lesões de alguns órgãos específicos como esôfago, intestinos ou coração, podendo levar a sérias consequências a longo prazo, inclusive à morte.
Os órgãos afetados pela doença de Chagas em fase crônica podem ser levados à paralisia, interrompendo seu funcionamento. Esôfago e intestino dilatados podem parar de funcionar, causando represamento dos alimentos no caso do esôfago ou constipação intestinal, podendo gerar outras complicações, como perfurações desses órgãos. No coração, o parasita causa insuficiência cardíaca e arritmias.
Tratamento e cura
O infectologista esclarece que, na fase aguda da doença, pode haver cura com o uso de antiparasitários específicos. Já na fase crônica, não há cura. Nesta fase, os tratamentos são para melhorar o funcionamento dos órgãos acometidos. “Em situações extremas, pode ser indicada a retirada de parte do esôfago ou de parte do intestino ou, até, o transplante cardíaco.
A Doença de Chagas no Brasil
De acordo com dados fornecidos pelo médico, estima-se que haja cerca de 12 a 14 milhões de pessoas infectadas pela Doença de Chagas na América Latina atualmente. A faixa etária mais acometida é de pessoas acima de 45 anos de idade.
Embora o inseto seja encontrado mais facilmente em construções rústicas, mais comuns em regiões afastadas, é comum que os portadores do parasita migrem para as grandes cidades em busca de trabalho ou tratamento, quando a doença já apresenta sintomas. Por isso, é na região sudeste que se verifica o maior número de casos da doença. Mesmo com os esforços realizados para erradicação dos casos, os dados mais recentes apontam que a doença de Chagas segue como problema de saúde pública.
RESPONSÁVEL:
Rodrigo Farnetano
Infectologista