O que é a leptospirose e qual é o principal transmissor da doença?
A leptospirose é uma doença infecciosa febril, aguda, potencialmente grave, causada por uma bactéria do gênero Leptospira. A leptospirose é, primariamente, uma zoonose (doença de animais) que ocorre no mundo inteiro, exceto nas regiões polares. O rato de esgoto (Rattus novergicus) é o principal responsável pela infecção humana, em razão de existir em grande número e da proximidade com seres humanos. A Leptospira multiplica-se nos rins desses animais sem causar danos, e é eliminada pela urina, às vezes por toda a vida do animal. A bactéria eliminada junto com a urina de animais sobrevive no solo úmido ou na água, que tenham pH neutro ou alcalino. Não sobrevive em águas com alto teor salino.
Além do rato, outros animais também podem transmitir a leptospirose? De que forma?
Os animais sinantrópicos domésticos e selvagens são os reservatórios essenciais para a persistência da infecção, enquanto os seres humanos são apenas hospedeiros acidentais. Espécies sinantrópicas são aquelas que vivem próximas às habitações humanas. Estes animais aproximaram-se do homem devido à disponibilidade de alimento e abrigo, servindo-se de frestas em paredes e forros de telhado, ou mesmo objetos empilhados em quintais para se abrigar. Geralmente são animais indesejáveis que podem transmitir doenças, inutilizar ou destruir alimentos ou sujar as residências. Entre eles estão: ratos, pombos, baratas, mosquitos, etc.
Como se dá o contágio?
A transmissão para o homem pode ocorrer diretamente pelo contato com urina de animais infectados ou indiretamente, o que é mais comum, por meio do contato com água e solos lamacentos contaminados com urina de animais infectados.A Leptospira penetra através da pele e de mucosas (olhos, nariz, boca) ou através da ingestão de água e alimentos contaminados. A presença de pequenos ferimentos na pele facilita a penetração, que pode ocorrer também através da pele íntegra, quando a exposição é prolongada. Os seres humanos são infectados casual e transitoriamente, e não tem importância como transmissor da doença. A transmissão de uma pessoa para outra é muito pouco provável.
Por que a incidência de leptospirose aumenta na época das chuvas?
Porque aumenta o risco de exposição dos indivíduos com a Leptospira através do contato com água e lama decorrentes de inundações.
Quais são os cuidados primordiais para evitar a doença?
O risco de adquirir leptospirose pode ser reduzido evitando-se o contato ou ingestão de água que possa estar contaminada com urina de animais. Deve ser utilizada apenas água tratada (clorada) como bebida e para a higiene pessoal. Bebidas como água mineral, refrigerantes e cervejas não devem ser ingeridas diretamente de latas ou garrafas, sem que essas sejam lavadas adequadamente, pois há risco de contaminação com urina de rato. Em caso de inundações, deve ser evitada a exposição desnecessária à água ou à lama. Pessoas que irão se expor ao contato com água e terrenos alagados devem utilizar roupas e calçados impermeáveis. Também recomenda-se empregar hipoclorito de sódio a 2-2,5% (água sanitária), segundo as recomendações do fabricante, para limpeza de locais onde são criados animais de estimação e de residências, após uma inundação.
Há indicações específicas para cuidados com os alimentos após ter ocorrido forte chuva e enchente?
Seguir os cuidados de preparação higiênica de alimentos, incluindo o tratamento com água clorada. Os alimentos devem ser acondicionados em recipientes e locais à prova de ratos. Descartar alimentos que entraram em contato direto com água de enchentes e não possam ser fervidos.
Quanto tempo, em média, os sintomas começam a se manifestar após o contágio?
A maioria das pessoas infectadas pela Leptospira desenvolve manifestações discretas ou não apresenta sintomas da doença. As manifestações da leptospirose, quando ocorrem, em geral aparecem entre 2 e 30 dias após a infecção (período de incubação médio de dez dias).
Quais são os sintomas da leptospirose?
Na maioria (90%) dos casos de leptospirose a evolução é benigna. As manifestações iniciais são febre alta de início súbito, sensação de mal-estar, dor de cabeça constante e acentuada, dor muscular intensa, cansaço e calafrios. Dor abdominal, náuseas, vômitos e diarreia são frequentes, podendo levar à desidratação. É comum que os olhos fiquem acentuadamente avermelhados (hiperemia conjuntival) e alguns doentes podem apresentar tosse e faringite. Após dois ou três dias de aparente melhora, os sintomas podem ressurgir, ainda que menos intensamente. A maioria das pessoas melhora em quatro a sete dias.
Quais são as complicações no estado de saúde do paciente que podem surgir se a doença não for tratada?
Em cerca de 10% dos pacientes, a partir do terceiro dia de doença surge icterícia (olhos amarelados), que caracteriza os casos mais graves. Esses casos são mais comuns em adultos jovens do sexo masculino, e raros em crianças. Aparecem manifestações hemorrágicas (equimoses, sangramentos em nariz, gengivas e pulmões) e pode ocorrer funcionamento inadequado dos rins, o que causa diminuição do volume urinário e, às vezes, supressão da produção de urina. O doente pode ficar torporoso e em coma. A forma grave da leptospirose é denominada doença de Weil. A evolução para a morte pode ocorrer em cerca de 10% das formas graves.
Como é feito o tratamento?
O tratamento da pessoa com leptospirose é feito fundamentalmente com hidratação. Não devem ser utilizados medicamentos para dor ou para febre que contenham ácido acetil-salicílico, já que podem aumentar o risco de sangramentos. Os anti-inflamatórios também não devem ser utilizados pelo risco de efeitos colaterais, como hemorragia digestiva e reações alérgicas. Quando o diagnóstico é feito até o quarto dia de doença, devem ser empregados antibióticos (doxiciclina, penicilinas), uma vez que reduzem as chances de evolução para a forma grave. As pessoas com leptospirose sem icterícia podem ser tratadas no domicílio. As que desenvolvem meningite ou icterícia devem ser internadas. As formas graves da doença necessitam de tratamento intensivo e medidas para tratamento da insuficiência renal.
RESPONSÁVEL:
Silvana de Barros
Infectologista e Coordenadora de Serviço de Controle de Infeccção Hospitalar do Hospital Mater Dei
CRM-MG: 18459