A síndrome de Guillain Barré é um processo inflamatório que ataca os nervos do corpo, podendo gerar perdas de sensibilidade e, também, de força muscular. Em sua forma mais grave, a doença pode paralisar a musculatura da respiração com risco de morte, caso o paciente não esteja em um ambiente hospitalar adequado.
Recentemente, essa patologia ganhou destaque ao ter a sua incidência relacionada à infecção pelo vírus Zika, que já se tornou uma emergência de saúde pública em todo o mundo, devido ao risco de causar microcefalia em fetos de gestantes que se infectam. Porém, Guillain Barré é uma complicação neurológica já conhecida há muitos anos, não sendo restrita à infecção pelo vírus Zika, podendo acontecer em decorrência de várias outras infecções e, em raros casos, após vacinação.
Sempre que o nosso corpo é atacado por algum microorganismo, como um vírus ou uma bactéria, criamos células de defesa chamadas anticorpos. Estes “soldados” são programados para destruir o inimigo, atingindo-o em um alvo específico de sua estrutura. O problema ocorre quando o microorganismo possui um “alvo” muito semelhante a uma proteína presente em todos os nossos nervos, chamada mielina. Nessa circunstância, os anticorpos se enganam e acabam atacando, além da infecção, também a mielina, causando uma inflamação generalizada em todos os nervos do corpo. Assim, instala-se a síndrome de Guillain Barré.
Há a suspeita da doença em pacientes que desenvolvam dormência ou fraqueza progressiva, inicialmente nos pés e mãos, mas que podem subir pelos membros até atingirem todo o corpo. Se houver uma história recente nas duas semanas anteriores, como febre, diarreia, ou qualquer outro sintoma infeccioso, a possibilidade de Guillain Barré se torna ainda maior.
Diante de uma suspeita, é fundamental que a pessoa seja imediatamente avaliada por um neurologista, em um ambiente de pronto-socorro. Com uma avaliação adequada, o diagnóstico pode rapidamente ser descartado ou confirmado, indicando o tratamento correto a ser feito. O prognóstico desta doença está diretamente relacionado à rapidez com que o diagnóstico é feito e o tratamento instaurado.
Alguns microorganismos possuem maior risco de gerar uma síndrome de Guillain Barré. Ainda não temos dados seguros para afirmar se o vírus Zika seria um deles. Independente disso, a mensagem a ser assimilada por todos é que, na presença de dormência ou fraqueza de início súbito e caráter progressivo, não devemos menosprezar esses sintomas, buscando sempre uma avaliação especializada em um centro hospitalar de referência.
Com o tratamento precoce e adequado, a maioria dos pacientes terá uma recuperação completa e definitiva. No caso dessa doença, como em tantas outras, a rapidez no diagnóstico é que faz toda a diferença.
RESPONSÁVEL:
Gustavo Daher Vieira de Moraes Barros
Coordenador do Serviço de Neurologia do Mater Dei Contorno
CRM-MG: 40745