A médica ginecologista e obstétra do Centro de Reprodução Mater Dei, Ana Márcia Cota, explica como a prática de atividades físicas pode trazer alterações hormonais para as mulheres
A participação em competições esportivas e programas de atividade física tem adquirido importância crescente na rotina de adultos e jovens. Uma consequência inevitável, e talvez lamentável desse fenômeno, é a ênfase dada às competições e à pressão por parte de treinadores, patrocinadores e familiares na busca de melhores resultados, acarretando estresse físico e mental. A prática de exercícios extenuantes, particularmente corridas de longa distância, tem sido associada com vários distúrbios do ciclo menstrual, incluindo retardo puberal, defeitos na fase lútea, anovulação e amenorreia.
Desde 1993, o Colégio Americano de Medicina Esportiva vem alertando sobre o termo conhecido como “Tríade da Mulher Atleta” – TMA para descrever a síndrome definida como a presença de anorexia, amenorreia e osteoporose, em geral, decorrente da Síndrome do Supertreinamento (overtraining) e tida como distúrbio neuroendócrino. Recentemente, esta definição foi ampliada incluindo na tríade qualquer comportamento alimentar inadequado, amenorreia ou oligomenorreia, osteopenia ou osteoporose.
A TMA atinge 3 a 66% das atletas e a sua prevalência depende da modalidade esportiva, da intensidade e da duração dos treinos e do estado nutricional da atleta; sendo maior naquelas com menos de 50 kg. Para o diagnóstico da tríade é importante, durante a investigação, avaliar os antecedentes menstruais, os hábitos alimentares, o uso de medicamentos e os fatores hereditários. No exame físico, é importante estar atento aos caracteres sexuais secundários e eventuais sinais de hiperandrogenismo. As dosagens hormonais, como beta-HCG, TSH, FSH, LH, prolactina, testosterona e SDHEA, poderão esclarecer a causa da amenorreia. Deve-se incluir nesta investigação a avaliação da composição corporal e, se possível, uma avaliação da densidade mineral óssea – DMO. A inclusão destas avaliações no exame físico pré-participação são passos importantes para identificar e prevenir a tríade.
O estresse físico imposto pelo treinamento intenso gera no hipotálamo, uma necessidade de adaptação neuroendócrina, levando ao aumento da produção de ACTH, adrenalina e cortisol. Ocorre, também, aumento da prolactina e do hormônio de crescimento (GH), responsável pelo estímulo hepático à produção do fator de crescimento insulinóide (IGF-I) que atua no trofismo ósseo.
A anorexia e as desordens alimentares, tais como a bulimia, uso de laxativos, anorexígenos e diuréticos gerada pela distorção da imagem corporal em busca de uma “imagem atlética” promove a queda nos níveis de dehidroepiandrosterona (DHEA), de GH e, consequentemente, do IGF-I, comprometendo a formação óssea e sua densidade.
A maior produção de opioides endógenos e de beta-endorfina promove a diminuição da produção do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) e uma consequente diminuição na liberação das gonadotrofinas (FSH e LH), o que determina a queda dos níveis de estrogênios, que além de alterações menstruais, causaria mudança na composição e na gordura corporal. Para uma atleta com ciclos menstruais regulares, essa alteração poderia acarretar amenorreia secundária ou oligomenorréia, seguida de uma fase lútea curta, anovulação e infertilidade, onde a instalação da hiperprolactinemia também contribuiria para esses eventos.
Incentivar a atleta para uma atividade física moderada com redução de 10 a 20% da carga de trabalho pode ser suficiente para normalizar o ciclo menstrual. De qualquer forma, todas as alterações no ciclo menstrual estão na dependência direta da intensidade e duração do exercício, bem como na perda de peso e de gordura corporal durante o treinamento. As atletas com insuficiência lútea muitas vezes necessitarão de avaliação ao desejarem engravidar. Acredita-se que a anovulação e o encurtamento da fase lútea sejam reversíveis com a parada do treinamento físico mas, em algumas situações, pode ser necessário tratamento hormonal e específico. Todas as situações devem ser acompanhadas pelo médico especialista.
Consulte o
Centro de Reprodução Humana Mater Dei – (31) 3339-9495
RESPONSÁVEL:
Ana Márcia de Miranda Cota
Ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana
CRM-MG: 35386
Publicado em: 28/04/2017