As técnicas de reprodução assistida levam a um aumento da incidência de gestação múltipla quando comparado com as gravidezes espontâneas. Na última década, uma das maiores preocupações dos profissionais que trabalham com a reprodução assistida é reduzir o número de gestações múltiplas. Considerando que o grande objetivo das técnicas de reprodução assistida é o bebê saudável em casa com os seus pais, a preocupação é relevante pois há aumento dos riscos de complicação na gestação de gêmeos, trigêmeos ou mais gera, tanto para a mãe quanto para os fetos.
Em um ciclo de fertilização in vitro, a chance de uma gravidez múltipla gira em torno de 20 a 30%. Uma estratégia para se reduzir essa incidência tão alta, é reduzir o número de embriões transferidos para o útero materno.
Assim, algumas sociedades médicas (American Society for Reproductive Medicine e Society for Assisted Reproductive Technology) desenvolveram guidelines sobre o assunto e o Conselho Federal de Medicina acrescentou em suas normas éticas uma regulamentação sobre o número de embriões a ser transferido para o útero.
Apesar dessas recomendações, o número de embriões transferidos deve ser discutido e analisado individualmente com cada casal. Deve-se avaliar a história de cada um, avaliando os seus fatores prognósticos para o sucesso de tratamento. Só após uma análise criteriosa e individualizada deve ser definido esse número. As variáveis que devemos levar em consideração nessa decisão são:
- Idade materna
- Qualidade dos embriões
- Estágio dos embriões
- Número e resultado de tentativas de fertilização in vitro anteriores
Portanto, em pacientes jovens, com menos de 35 anos, os casais devem ser encorajados a transferir somente um embrião de boa qualidade. No entanto, é aceitável a transferência de até 2 embriões.
Para pacientes entre 35 e 39 anos, a recomendação é que se transfira até 3 embriões. Em situações de bom prognóstico, como grande número de embriões de boa qualidade, embriões excedentes com possibilidade de congelamento e sucesso em ciclos de fertilização in vitro anteriores, devemos sempre considerar a transferência de 2 ou até mesmo 1 embrião também nessas pacientes. Já para as pacientes acima dos 40 anos de idade, é possível a transferência de até 4 embriões.
Nos casos de pacientes que estiverem realizado a ovodoação (fertilização in vitro com óvulos doados) devemos considerar a idade da doadora para avaliar e não o da paciente receptora.
Por meio dessas medidas, visamos a reduzir o número de gestação múltipla, o que é um resultado indesejado das técnicas de reprodução assistida.
RESPONSÁVEL:
Ana Márcia de Miranda Cota
Ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana
CRM-MG: 35386
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