No Brasil os dilemas na área da saúde que despontam no horizonte das próximas décadas vão exigir um crescente profissionalismo e a quebra de paradigmas a fim de que tenhamos sistemas auto-sustentados e longevos.
Cada vez mais iremos conviver com a chamada tripla carga de doenças. E todas elas necessitando de um acesso a Serviços de saúde e uma medicina mais resolutiva e exercida de maneira integrada no âmbito das entidades prestadoras de serviços.
Algumas destas doenças têm relação com o maior envelhecimento da população. As pessoas irão viver mais e, com isto, recorrerão com maior frequência a estruturas para cuidar de sua saúde.
Assim, espera-se que as chamadas doenças crônico-degenerativas, tais como a diabetes, a hipertensão arterial ou as cardiopatias e que estão associadas ao envelhecimento, aumentem significativamente.
Da mesma maneira, as doenças infecciosas que tinham praticamente sido erradicadas voltam a incidir na população brasileira com frequência cada vez maior, requerendo também melhores e mais assertivos serviços de saúde.
Exemplos destas doenças são as causadas pelo vetor Aedes Aegypti, a sífilis e a tuberculose.
As doenças decorrentes da violência requerem tratamentos especializados e cada vez mais complexos. Sejam as ocasionadas pelos acidentes de trânsito ou pelas agressões e pelo estilo urbano de vida, todas elas geram uma maior utilização de hospitais e estruturas articuladas de atendimento e atenção.
O Brasil já gasta atualmente 9% de seu PIB (Produto Interno Bruto) com saúde. Destes, aproximadamente 55% vem do sistema privado. Incluindo aí os gastos com hospitais, médicos, planos de saúde e medicamentos.
Em decorrência da crise econômica instalada em nosso país, o mercado de pessoas que têm planos de saúde encolheu 2,5 milhões de usuários nos últimos dois anos. Com isto o volume de recursos à disposição do setor privado para pagar médicos, hospitais e os gastos administrativos das Operadoras de planos de saúde também estão diminuindo.
Temos, de um lado, uma perspectiva de maior utilização de hospitais e médicos (pela mudança do perfil das doenças) e do outro um menor volume de recursos disponíveis.
Vale lembrar que hospitais são empresas que necessitam de capital intensivo para estarem atualizados e para que possam oferecer tratamentos e apoio à terapêutica com segurança e qualidade. O investimento na capacitação dos profissionais, os programas de certificação que reforçam a qualidade e a segurança assistenciais e a incorporação tecnológica são alguns exemplos do quanto os hospitais precisam estar permanentemente investindo recursos financeiros ano após ano.
Por isso, no próximo dia 8/6 a REDE MATER DEI DE SAÚDE realizará o 8º Seminário de Gestão em Saúde. Serão discutidos temas da mais alta relevância, dada a complexidade que envolve este campo da gestão, mas em particular pelo momento atual em que o mundo discute novos caminhos para enfrentar os desafios que praticamente todas as nações enfrentam para lidar com algumas mudanças no perfil das doenças que acometem homens e mulheres no mundo contemporâneo.
Esta é a razão pela qual a gestão profissional na área da saúde se faz tão necessária e, ao mesmo tempo, ser uma das mais complexas.
É cada vez mais importante que façamos um investimento em estruturas que possibilitem que o usuário tenha o melhor desfecho assistencial e que saia do sistema melhor do que entrou, que tenha a melhor experiência em termos de satisfação quando utilizar estes serviços e que haja também uma prestação de serviços focada no melhor custo-benefício dos recursos financeiros alocados.
E assim diminuindo os desperdícios e os custos desnecessários.
Não está longe o tempo em que o paciente poderá ter acesso a um prontuário eletrônico em que seus exames, anotações médicas e demais informações vão estar disponíveis de maneira integrada, permitindo abordagens assistenciais mais efetivas e articuladas. Tudo em benefício do próprio paciente e da efetividade do sistema de saúde.
Eu tenho a plena convicção de que estamos entrando em uma nova fase na prática médico-hospitalar e também nas relações entre as diversas partes interessadas que compõem a cadeia de saúde.
Da mesma maneira que vivemos no passado a onda da “medicina baseada em evidências”, hoje amplamente incorporada pelos melhores centros, vamos viver em breve a época da prática do “cuidado médico e hospitalar baseado em valor”.
Para esta nova fase as instituições e profissionais vão precisar se reciclar.
Henrique Moraes Salvador Silva
Presidente da Rede Mater Dei de Saúde